sábado, 27 de julho de 2013

Dossiê Jd. Leonor - 6º Parte

Postagem anterior: Dossiê Jd. Leonor 5º parte

Chegamos a 1952, o SPFC mandava seus jogos no Pacaembu, longe de ter uma torcida do tamanho de Corinthians ou Palmeiras, o clube buscava se firmar entre os grandes, suas falências e os golpes constantemente geravam constrangimentos, o clube devia buscar uma forma de se igualar aos dois gigantes da capital paulista.
Tanto o Corinthians como o Palmeiras possuíam já um patrimônio considerável, o Palestra Itália e o Parque São Jorge eram muito acanhados perto do que era o Pacaembu, mas eram privados, e o Canindé se deteriorava a cada dia, toda a estrutura estava sucateada, além do projeto da Marginal Tietê estar ganhando forma, o clube sabia que seu patrimônio além de menor que o dos demais seria cortado ao meio por uma grande avenida, portanto como construir o que fosse no terreno?
 Não conseguiram se apossar do Ibirapuera e também fracassaram tentando o Pacaembu, os demais progrediam e o SPFC estava estagnado, não havia grandes perspectivas, mas eles não desistem.
 O governador do estado era Adhemar de Barros, Laudo Natel seu vice, Natel também era diretor do Bradesco (na época Banco Brasileiro de Desconto) e conselheiro do SPFC.

Adhemar de Barros
Adhemar de Barros por meio da Imobiliária Aricanduva consegue um empréstimo junto ao governo de São Paulo e compra uma enorme área localizada no Morumbi, a área era antigamente uma fazenda que pertencia à família Matarazzo, e batizou esta área com o nome de sua esposa, Leonor Mendes de Barros, a área passou a se chamar Jardim Leonor.
 Percebeu algo estranho? Não? O Governador pega um empréstimo através de uma empresa sua do governo do estado? É isso mesmo? O governador esta emprestando dinheiro pra ele mesmo? O dinheiro publico que deveria ir para obras publicas financia a compra de um terreno para especulação imobiliária?
 Laudo Natel vai à diretoria do SPFC e faz uma proposta interessante, A Imobiliária do governador doaria ao clube uma área de cerca de 25 mil metros quadrados, isso, de graça, dado pela imobiliária, o SPFC compraria mais cerca de 25 Mil. Na realidade o SPFC não comprou NADA, o que fez foi trocar a área que passaria as vias da Marginal Tiete e em troca receberia a área no Jd. Leonor.
 Mas só um instante, onde entra o capital PRIVADO nisso afinal? Não existe capital privado, o Adhemar de Barros pegou dinheiro do estado, comprou toda a região, ofereceu uma parte ao SPFC que entrou com outra área sendo esta trocada por uma parte do Canindé (que fatalmente seria desapropriada, como aconteceu com Corinthians, Paulistano e vários outros).
 Mas não foi só isso, Laudo Natel consegue junto à prefeitura outra área, esta seria uma praça publica e já haviam começado os trabalhos de terraplanagem, era na realidade o único terreno na região com alguma estrutura, que foi feita pela prefeitura, e é justamente esta a área que o clube consegue também de graça, a prefeitura doa ao SPFC mas o clube deve destinar 25% da área para benfeitorias publicas, pois esta é uma exigência das leis municipais, pra prefeitura te dar algo você precisa dar algo em troca.
 A prefeitura doa então ao SPFC uma área de 100 mil metros quadrados, pra que por a mão no bolso? Afinal o governador e o vice estão do nosso lado, e quem manda na prefeitura são eles.
 A principio Corinthians e Palmeiras assim como a imprensa não entendeu o motivo de o SPFC pedir o terreno no meio do nada para a prefeitura, o que ninguém sabia é que todo um projeto urbanístico já estava totalmente elaborado e só quem sabia era o governador, que comprou o terreno e acelerou as obras publicas pra que toda a estrutura necessária para se lotear o terreno chegasse mais cedo, para todos aquilo era estranho, não havia motivos pra se enfiarem no meio do nada, mas o clube sabia perfeitamente o que estava fazendo, afinal quem apresentou a ideia foi apenas o vice-governador do estado, se ele não souber o que estava fazendo quem então saberia?
 O clube forma então uma comissão para a criação do "estádio aos moldes do Maracanã" e Laudo Natel é o principal articulador, sua posição politica é privilegiada, além de ele ser diretor do Bradesco e eventualmente atrair algum otar.... ops investidor.
 Claro que todos sem entender faziam até piada, torcedores de Corinthians e Palmeiras chegaram a chamar o SPFC de "time do interior dentro da capital", mal sabiam que toda aquela área seria totalmente urbanizada e que lá aconteceria uma das maiores fraudes imobiliárias que este pais já viu, que ajudou inclusive a derrubar mais tarde o governador.
 O governador com dinheiro do povo compra a área, leva água, luz, esgoto, pavimenta grandes ruas e avenidas pra poder lucrar muito com a venda dos terrenos, tudo com um padrão nunca visto, destinado apenas à elite, nada como o "filho do Paulistano" na região pra ajudar valorizar, o plano do Governador foi um sucesso absoluto, em dias atuais talvez o povo linchasse em praça publica, mas ainda haveria mais.
 Laudo Natel passa a liderar faz algo que hoje é absolutamente inaceitável, com medo de que algo desse errado o clube inicia a construção do estádio o mais rápido possível, não havia meios de iniciar a construção, tanto que sequer havia um PROJETO DO ESTADIO, isso só foi possível porque quem estava a frente era o VICE-GOVERNADOR, hoje pra se construir uma residência simples são necessários uma enxurrada de documentos, alvarás e várias garantias, mas não, pro SPFC isso ão valen, e como sabiam que tudo o que foi orquestrado poderia ruir trataram de acelerar e atropelar tudo, passando inclusive por cima de leis municipais e estaduais, e conseguiram, quem que poderia barrar Adhemar de Barros e Laudo Natel juntos?


 Então o SPFC não contente em ganhar todo aquele terreno percebe que precisava de um novo golpe pra angariar fundos pra iniciar as obras, ao menos colocar lá uns caminhões e tratores pra que Laudo Natel atraísse investidores com a grana pesada, pra isso era necessário um capital, o clube não tinha, ao contrario, estava todo endividado, então resolveram de maneira simples, venderam o Canindé à um conselheiro e este o vendeu à PREFEITURA, mas havia uma condição o SPFC teria ainda o direito de continuar utilizando o local até pelo menos que construíssem alguma estrutura no Morumbi.
 O terreno fica de posse deste conselheiro, o clube continua utilizando, ele o vende à Prefeitura que sem ter o que fazer o doa à Portuguesa.
 A Lusa chega achando que encontraria alguma estrutura, coitada, teve que reestruturar toda a area, construir arquibancadas ao redor do campo, o local não possuía condição alguma de receber quaisquer evento esportivo tamanho o seu sucateamento.
 O dinheiro do Canindé junto com Cr$ 5.000.000,00 obtidos por empréstimo da Caixa Econômica Estadual serviram pra iniciar as obras.
 Pera, volta...
 CAIXA ECONOMICA ESTADUAL? Não é que o Adhemar queria mesmo bancar tudo, mas foi isso realmente o que aconteceu, o dinheiro emprestado pelo estado e o terreno doado pela prefeitura e estado foi o que financiou a obra.
 Mas um estádio "nos moldes do Maracanã" (que mania absurda de grandeza) não se constrói com alguns trocados, precisariam de muito mais dinheiro.
 Faltavam materiais dos mais diversos, mas sempre recorriam ao Laudo Natel e de maneira INEXPLICAVEL o material aparecia e obra continuava, claro que Natel teve que fazer tudo sem causar grandes alardes, então o estádio demorou muito pra ser construído.
 Vejam esta pérola do presidente do SPFC Juvenal Juvêncio comentando a respeito:


Se não percebeu volte e assista novamente o que ele diz, encontrará esta frase:
 "O Morumbi e uma fantástica obra do PODER PUBLICO.”
 Dita pelo próprio presidente do SPFC.
 Natel fez de tudo, até mesmo carnes de poupança que teriam parte do dinheiro revertido para a construção do estádio ele lançou.
 O carne era oferecido nas escolas estaduais, dizendo que todos deveriam ajudar a construir um patrimônio do futebol paulista, a propaganda se baseava em dizer que o Morumbi seria o estádio do "povo paulista", tudo pra tentar iludir a população, que na época não possuía muito acesso a informação (censura da ditadura) e caia na conversa fiada.

 Só que se esqueceu de avisar que este tipo de carne era PROIBIDO POR DECRETO FEDERAL, mas melhor ignorar, faz de conta que vale, e o SPFC faz questão de ENALTECER esta passagem, afinal sem o dinheiro do carne não terminariam a obra.
 Natel obrigou a todas as escolas publicas do estado a venderem o carne, mas também era EMPURRADO GOELA ABAIXO de quem quer que fosse ao Bradesco financiar alguma coisa ou pedir empréstimos, bom, quem mandava no Bradesco era o Natel, no governo também, fácil.
 Outros empréstimos com dinheiro PUBLICO foram concedidos pela prefeitura, estado e união para ajudar na obra, até hoje existem parcelas destes empréstimos sendo pagas, um valor absurdo, algo próximo a R$ 10,00 por mês.
 Então agora chegamos ao final da obra, o SPFC não ganhava um titulo sequer a muito tempo, eles diziam que era porque todo o dinheiro arrecadado pelo departamento de futebol era destinado ao estádio, será?
 Ou o motivo de não ganharem não seria porque havia um Santos de Pelé e um Palmeiras de Ademir de Guia? Não venceu nada no período não pro falta de investimento mas sim nas palavras do próprio Natel:
 "-Enquanto o Pelé jogar ninguém mais conseguira ganhar titulo algum"
 Uma coisa passou a pesar contra o SPFC o Santos de Pelé era agora a terceira grande força de São Paulo, claro que em seu tempo era a MAIOR FORÇA do futebol paulista, mas o Santos, clube "do interior" conseguiu MAIS do que o SPFC e dentro de campo ganhou a condição de GRANDE em São Paulo, e o SPFC de grande mesmo tinha apenas sua mania de grandeza e um estádio gigante mas não havia o principal, a TORCIDA, o Santos havia conseguido algo que eles não conseguiram, e de fato ninguém ligava pro SPFC, só riam das suas manias de grandeza, torcida MESMO era do Corinthians e o Palmeiras, com o Pelé o Santos forte.
 O que fazer? Bom, ganhar um título, mas o Santos era imbatível, além dele ainda havia o Palmeiras que só perdia pro Santos, e de quebra havia o Corinthians, como superar?
  Natel então é nomeado governador biônico, e já havia também se tornado presidente do SPFC, o estádio estava pra ser inaugurado, Natel precisa de mais apoio, então ele traz o Ditador chefe do Pais, o Presidente Médici para a inauguração do estádio.
 O presidente não aceitou muito bem a ideia, com medo de que a população o execrasse, mas Natel o tranquilizou.
 Pra então coroar com chave de ouro a inauguração do Morumbi, nada menos que o DITADOR CHEFE presente, que em uma entrevista ao SPFCnet Laudo Natel confidencia que Medici era são-paulino, o que pode-se confirmar posteriormente com várias visitas do "presidente" aos jogos do da SPFC, que na realidade se tornou uma tradição, era extremamente comum ver os generais ditadores nas tribunas do estadio.
 Com o Morumbi inaugurado, agora o SPFC deveria dar um jeito de conseguir novos torcedores, mas com Pelé e Ademir da Guia em atividade as coisas se complicaram muito, mas Natel não perderia a primeira oportunidade que aconteceu.
 Em 1970 a Ponte Preta havia montado um time muito forte, o campeonato possuía dois turnos o os dois primeiros decidiam o título, a Ponte empata com o Corinthians e ganha do Santos, vai pro jogo contra o instável SPFC, começa o jogo ATROPELANDO, mas não durou muito, no intervalo do jogo o futebol vê o poder da ditadura e até onde ela chega para atingir seus objetivos, no intervalo desce um helicóptero no meio do gramado trazendo o recém nomeado governador biônico Laudo Natel, da pra imaginar esta cena?
 Um helicóptero descendo no centro do gramado trazendo o GOVERNADOR DO ESTADO? Em plena DITADURA?
 Existem vagos registros, é obvio, tudo era censurado, os generais e "coronés" faziam o que bem entendiam, até mesmo invadir um jogo pela metade em um helicóptero com o time em que você é PRESIDENTE esta perdendo de 2x0.
 Bom, fácil prever o que aconteceu.
 Natel desce até os vestiários, tem uma conversa bem AMIGAVEL com todos, inclusive com o arbitro da partida e ao retornar...
 SE SENTE NO BANCO DE RESERVAS, vai ver era o único local vago no estádio, da pra imaginar que o governador do estado estivesse ali fazendo pressão ou se certificando de que tudo daria certo? Nada, imagina, ele é o governador, é imparcial, justo...
 Claro que o jogo terminou nos 2x0... a não, foi 2x2, o ocorrido foi apenas coincidência.
 No jogo de volta, no segundo turno o SPFC fez o seu jogo da década, era o tudo ou nada, se perdessem da Ponte e o Corinthians ganhasse eu jogo tudo estaria acabado, Natel, como era muito justo, muito coerente e totalmente imparcial...
 Se sentou no banco de reservas e lá ficou o jogo todo.
 Isso pode Arnaldo?
 Não isso não pode, é, ele mesmo,  o Arnaldo Cesar Coelho que havia acabado de subir pro quadro principal HOJE diria ISSO NÃO PODE, mas na época, coitado, o que poderia fazer?
 Então o Terto...
 o TERTO lembra? FAMOSO PONTA DO SPFC?
 Não lembra?
 Bom o Terto se joga... é PENALTY!
 Ops, ele se jogou?
 Não faz mal.
 Mas foi FORA DA AREA...
 Não faz mal, olha quem tá lá no banco de reservas...
 Resultado, a pobre Ponte perdeu de 2x0, e ai dela e do Arnaldo se meterem no caminho.
 E assim se iniciou o famigerado "apito rosa"
 Que se perpetua, se não vai por bem, vai por mau.
Nenhum outro clube conseguiu tanto patrimônio durante a ditadura militar como o SPFC, um clube que não tinha torcida, não tinha time, não tinha estádio de repente constrói o maior estádio particular do mundo (em sua época de inauguração), além é claro de uma luxuosa sede social. Sendo que seu principal líder durante todo este período foi o Sr. Laudo Natel.
vai ver é apenas coincidência, coisa feia ficar acusando sem provas.
Mais provas?
Bom, ainda falta...
Vamos voltar no passado, lá na doação do terreno pela prefeitura, deveria haver uma COMPENSASSÃO por parte do SPFC pra receber o terreno, dos 100 mil metros, 25 mil deveriam ser áreas publicas, parques, estacionamentos...

O SPFC deu sim, deu um ESGOTO a céu aberto pra comunidade local, isso, ganha um estádio e retribui com sua merda, no sentido mais literal da palavra.



Hoje associações de amigos de bairro tentam sensibilizar o poder publico pra que o clube cumpra o prometido, vários processos correm na justiça, além do esgoto jogado pelo estádio a área publica prometida estão longe de terem uma solução.

O SPFC elaborou uma fabula, um conto de fadas que diz que o Morumbi foi uma obra árdua, difícil, e só foi possível devido à exelente administração do clube, MENTIRA, foi tudo GANHO, sem força, sem suor, tudo o que o SPFC divulga não passa de conto da carochinha.

Após o anuncio da Arena Corinthians ser a sede paulista na copa de 2014 o SPFC encomendou ao historiador do clube uma historia plausível sobre a construção do Morumbi, passou a defender a tese de que os empréstimos de origem publica somaram OFICIALMENTE ao todo 4,5% do valor total da obra, mas isso foi exclusivamente os empréstimos DIVULGADOS pelo poder publico, no auge da ditadura seria IMPOSSÍVEL definir os valores reais, que obviamente são muito superiores, até porque não foram empréstimos e sim DESVIOS DE DINHEIRO PUBLICO. Nenhum órgão oficial divulgaria estes números.

 Continua